Antes da palavra, havia a fumaça. Sopro ancestral que desenhava no ar os primeiros gestos de comunicação entre os povos originários, muito antes do surgimento dos dialetos. Na cosmovisão indígena, a linguagem é um presente do grande espírito Edjadwalha — um elo sagrado entre céu e terra.

A obra Amerê, que em Tupi-Guarani significa “fumaça”, é um chamado para que os jovens escutem as vozes dos anciões, preservem suas línguas e reconheçam o valor espiritual da oralidade. É também uma oferenda de gratidão aos antepassados que, com sabedoria, deixaram como herança a semente viva da palavra — instrumento de continuidade cultural e resistência simbólica.

Por entre as brumas do tempo, a fumaça revela linguagens invisíveis: aquelas que conectam o ser humano à natureza, ao sonho, à memória. Ao projetar luz e som sobre a Casa da Torre, estrutura central do Castelo Garcia D’Ávila, Amerê ativa o passado como presença. A pedra se torna pele; o ruído da história encontra a delicadeza de uma outra narrativa — viva, pulsante, ancestral.

Ainda que o Castelo Garcia D’Ávila represente uma das primeiras marcas da colonização no Brasil, seu território é aqui ressignificado como espaço de escuta, cura e reconciliação. A presença da arte indígena nesse cenário simbólico propõe um gesto de reencantamento: onde antes se impôs o domínio, agora ecoa a sabedoria dos povos originários. Neste encontro, algo de bom floresce — uma nova possibilidade de coexistência, tecida pela memória, pelo respeito e pela beleza compartilhada.

Através da linguagem do video mapping, a histórica Casa da Torre se converte em oráculo de imagens. Suas paredes respiram narrativas que atravessam gerações e anunciam, como a fumaça no horizonte: preservar a terra é também preservar o futuro da palavra.

Produção e Criação visual: VJ Grazzi
Ilustrações: Ytawanay Alves Fulni-ô
Trilha Sonora: Cafurnas Fulni-ô - Owa Sewaxto Oweke Setsotwa Iha
Cafunas Fulni-ô - Yaathelha Setsotwalh

Projeto Curatorial e Projeto Expográfico: Rose Lima
Coordenação de Produção: Virginia da Rin